Publicado em 15 de março de 2016
Enio Verri
Há uma confusa discussão, útil para alguém, em torno das causas das crises pelas quais passa o País: política, econômica e jurídica. Crise, em si, não é mau sinal, pois leva a mudanças e transformações. É preciso estar atento à conjuntura para perceber as forças e os interesses em jogo e não se deixar levar inocente ou convenientemente por eles.
Sob qualquer aspecto, seja lá o campo onde a crise é tratada, ela é eminentemente política. Afinal, não há ser humano capaz de fugir à sua condição de animal político. Nesse aspecto, não há registro, na história deste País, de governos que tenham investido mais em políticas democratizantes quanto os governos Lula e Dilma.
Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), das 115 conferências nacionais realizadas no Brasil, desde a institucionalização da ferramenta, em 1940, sobre os mais diversos assuntos, como: educação, saúde, direitos humanos, comunicação, mobilidade, 74 delas ocorreram nos governos Lula.
Entre os anos 2003 e 2014, a política dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) criou cerca de 20 milhões de empregos, o que afetou sobre maneira a economia do País, bem como o arranjo social das famílias. A política desenvolvida pelos oito anos dos governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criou apenas 880 mil postos de trabalho.
Lula assumiu o governo do Brasil quando ele estava com 12% de desemprego. Hoje, em meio à uma crise mundial que também atinge os trabalhadores do Brasil, em março de 2016, o índice de desemprego está em 9%. Não é para se comemorar, ainda mais quando sabemos que, em janeiro, o desemprego alcançou o menor índice da história do País, 4,5%. Uma política de pleno emprego desenvolvida há mais de 10 anos pelo PT.
O acesso à educação foi outra política dos governos Lula e Dilma cujas ações e resultados são muito superiores a qualquer política implantada em governos anteriores. O orçamento do Ministério da Educação passou de R$ 18 bilhões, em 2002, para R$ 115, 7 bilhões, em 2014. O Programa Universidade para Todos (Prouni) permitiu o acesso a mais de um milhão de pessoas às universidades, com bolsas integrais ou parciais.
Em 2015, o Sistema de Seleção Unificado (Sisu) abriu as portas do ensino superior e, portanto, a melhores possibilidades de qualificação profissional para cerca de três milhões de estudantes. Mais de 400 escolas técnicas foram construídas durante os governos do PT e cerca de 12 milhões de jovens estão matriculados no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
Todas as políticas acima citadas fazem parte de um projeto político do PT, de desenvolvimento social e econômico, e o seu resultado mais significativo foi o fato de o Brasil, depois de 500 anos, sair do Mapa da Fome, brilhantemente apontado por Josué de Castro. As políticas de inclusão social, com o Programa Bolsa Família como carro-chefe, fizeram com que 40 milhões de pessoas saíssem da insegurança alimentar e passassem a fazer, no mínimo, três refeições por dia.
Mas, os incontestes dados reveladores de uma mudança social estrutural não significam absolutamente nada para uma oposição sem projeto. Pelo contrário, ela se aproveita das reais crises econômicas mundial e brasileira para, por meio da “legalidade”, aplicar uma política de aprofundamento do caos e, assim, implantar seu projeto de privatização do Estado e entrega dos recursos energéticos brasileiros aos estrangeiros, como fizeram nos anos 1990.
Em relação às manifestações de domingo (13), bem como todas as outras que a antecederam, elas ocorreram graças a um dos partidos políticos que mais lutou por esse direito. E o discurso monocórdico dos manifestantes, “contra a corrupção”, só é possível dizer de boca cheia porque nunca na história deste País houve tantas operações da Polícia Federal, com o fortalecimento e autonomia dos órgãos de fiscalização e controle, quanto nos últimos quatro governos do PT.
Por fim, todo esse processo de desestabilização do governo, por meio de irresponsável terrorismo político e atos legislativos pouco dignificantes, e que agravam a economia do Brasil, são a política da oposição cujo único projeto é manter seus privilégios, por meio da entrega da soberania nacional.
É preciso uma reação urgente para conter um iminente golpe em curso, conduzido pelas mãos de eminentes entreguistas da nação. Os brasileiros cientes do processo não podem abrir mão de manifestar contra isso. O campo da disputa do discurso e da narrativa é a rua. A participação deve ocorrer em todos os locais onde as forças progressistas podem se reunir e deliberar ações.
Em casa, na igreja, no clube, nas associações, a discussão sobre a soberania e a autoestima da nação deve estar na ordem do dia, sob pena de ver um governo legitimamente eleito ser derrubado.