Atentado à democracia

Publicado em 19 de abril de 2016

Enio Verri

A democracia brasileira, novamente, acordou com mais uma marca negativa em sua história. A Câmara dos Deputados aprovou a abertura de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, sob motivos estritamente políticos, ferindo não só o sistema democrático, como ainda, a Constituição Federal, um dia reconhecida como Cidadã.

Baseado em pedaladas fiscais, uma variável contável comum na Gestão Pública, o relatório de Jovair Arantes (PTB), dono uma ficha corrida com diversas acusações de corrupção, foi aprovado por mais de dois terços dos deputados. Parlamentares que, citando mais Deus do que crime de responsabilidade, tentam tirar uma Chefe de Estado eleita por mais de 54 milhões de brasileiros.

O desrespeito à vontade popular é ainda mais grave, quando analisada as vontades daqueles que buscam a transformação do Congresso Nacional em um Colégio Eleitoral, escolhendo um novo presidente sem o crivo das urnas. Um golpe branco que repete a triste história de outros países da América Latina.

Liderado por Eduardo Cunha (PMDB) um dos maiores envolvidos na Lava Jato e acusado de receber mais de R$ 50 milhões em propina, o processo de impedimento que envolve uma série de parlamentares acusados de corrupção, na prática, revela-se a como um espetáculo midiático que em um breve futuro pode representar regressos sociais e econômicos no País.

Repleto de promessas quanto ao fim da Lava Jato, vantagens financeiras e patrocínio de empresários, o parlamento dá um voto de confiança ao vice-presidente, Michel Temer (PMDB), delatado no esquema de corrupção da Petrobrás, rejeitado pela maioria dos brasileiros e defensor de privatizações, flexibilização dos direitos dos trabalhadores e da desobrigação de gastos mínimos com saúde e educação.

De acordo com pesquisa Datafolha, realizada no começo do mês, 58% dos brasileiros são a favor do impedimento de Michel Temer. Entre os manifestantes, durante a votação de domingo (17), em São Paulo, a rejeição do vice-presidente é de 54% e de 79%, entre quem protesta contra a presidente e a favor, respectivamente.

A primeira batalha foi perdida, mas não a guerra. Conclama-se a resistências nas ruas, em defesa da democracia, vontades populares, conquistas sociais, Pré-Sal, os direitos trabalhistas, entre tantas outras garantias conquistadas com suor e sangue de milhares de brasileiros.

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