Publicado em 3 de agosto de 2016
Seria necessário às Comissões de Cidadania, Educação, Ciência, Cultura, Direitos Humanos, da Câmara dos Deputados, convocar sucessivas audiências públicas para debater com a sociedade e denunciar o que está sendo feito contra todas essas e outras áreas não menos importantes para um pretenso Estado Democrático de Direito.
Michel Temer conduz o Brasil a um passado nem tão remoto assim, de atraso, vassalagem, fome, muito mais violência, opressão, censura, restrição a todo tipo de acesso, cassação de direitos constitucionais. Num tempo, 2001, quando morriam diariamente 300 crianças, de fome. Em 13 anos dos governos do PT, o Brasil saiu do Mapa da Fome, monitorado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A última impostura foi cortar um dos mais importantes programas educacionais dos últimos 15 anos. Para satisfazer o Mercado, o provisório Temer determinou ao não menos provisório ministro da Educação, Mendonça Filho, cortar as bolsas para graduandos do programa Ciência Sem Fronteira, criado pela presidenta Dilma Rousseff, em 2011. A alegação foi o alto custo por estudante, cerca de R$ 100 mil ao ano.
A medida Temer Mendonça é impensável para um governo da sétima economia do mundo, mas muito reveladora do ódio contra Dilma e o PT, por criarem programa de tamanho êxito, que projeta positivamente o Brasil no exterior. Revela, também, a pequenez e o provincianismo de um governo para quem a subserviência ao interesse financeiro internacional é o ideal de ser de uma nação.
O “alto custo” das bolsas será destinado ao financiamento de intercâmbio cultural de estudantes do Ensino Médio. Nada contra proporcionar esse investimento aos secundaristas, mas, a vivência terá um valor muito mais pessoal que social. As bolsas do CsF ampliam fronteiras científicas e tecnológicas para a nação, além de estimular a formação científica e aprender e/ou aprimorar a língua estrangeira.
O CsF enviou a dezenas de países mais de 100 mil estudantes, até o ano de 2015. Apenas nos Estados Unidos (EUA), país mais concorrido entre os candidatos ao Programa, o número de universitários brasileiros passou de 8,7 mil, em 2010, para 13,2 mil, em 2014. Um aumento de 51%. Para muito além da quantidade de estudantes enviados ao exterior, os primeiros quatro anos do programa demonstraram a assertividade do governo Dilma pela formação intelectual e científica dos brasileiros.
Não demorou para os talentos se revelarem. Em 2014, os estudantes de engenharia, Tereza Barros, Eduardo Henrique, Gabriela Oliveira, Jessica Dias e Carlos Grande, bolsistas na Budapest University of Technology and Economics, na Hungria, integraram a equipe da plataforma ambiental global Greenwill, como desenvolvedores internos. Participam de projetos de sustentabilidade ambiental, de eventos e congressos relacionados à área.
O brasileiro Joaquim Justino Neto, então estudante do curso de Engenharia de Materiais e Manufatura, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da USP, foi assistente de pesquisa do professor Al-Habaibehm, da Nottingham Trent University, no Reino Unido. Al-Habaibehm desenvolveu um protótipo de uma agulha para reduzir lesões em cirurgias laparoscópicas. Conhecimento tecnológico apreendido por um brasileiro e trazido para o País. Essa possibilidade foi sepultada pelo provisório governo ilegítimo.
Em 2015, o estudante de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luís Felipe Longo Micchi, identificou o que pode ser uma estrela supernova, da galáxia MRK- 477. A descoberta ocorreu quando Luís era bolsista pelo CsF, na Catholic University of America, em Washington. O feito valeu ao brasileiro, entre outras coisas, estabelecer uma vasta rede de contatos com cientistas de todo o mundo que atuam no campo da Astronomia e da Física.
Esses e muitos outros casos de sucesso de estudantes brasileiros não vêm ao caso para um governo que nasce da ilegitimidade, pois se exige um projeto político de Estado Ampliado, e não um projeto de Estado Mínimo, rejeitado em 2014. O que preocupa um governo à serviço do mercado de capitais é o fato de ter sido investido, em quatro anos de programa, mais de R$ 6 bilhões. A esse mesmo governo, alienado dos interesses da nação, não interessa os mais de R$ 500 bilhões sonegados, anualmente.
Suspender o CsF para a graduação, para financiar intercâmbio de secundaristas é um passo acelerado para consolidar o Brasil como um país fornecedor de mão de obra para o setor de serviços e solapar o potencial criativo científico da nação. Para Temer e Mendonça, o Brasil precisa fornecer à ordem mundial mão de obra barata e fluente em inglês. “Thank you very much, sir”.