Desempenho fraco da produção industrial frustra expectativas

Publicado em 7 de janeiro de 2017

Folha de S.Paulo

A trajetória de queda da indústria ainda não dá sinais de reversão. Dados da produção de novembro divulgados nesta quinta-feira (5) pelo IBGE apontam um crescimento de 0,2% frente a outubro.

Em relação ao mesmo período do ano passado, houve um recuo de 1,1% –a 33ª retração consecutiva na comparação anual.

Os resultados surpreenderam negativamente analistas do mercado. Pesquisas das agências Reuters e Bloomberg apontavam uma expectativa média de altas de 2% e 1,3% no mês, respectivamente.

A categoria de bens semiduráveis e não duráveis foi a que apresentou maior queda no período, de 0,5%.

Esses produtos, que englobam alimentos e vestuário, são diretamente ligados ao consumo das famílias, que ainda sofrem com altos níveis de endividamento e restrição no acesso ao crédito.

Outro ramo com desempenho aquém do esperado foi o de coque, derivados de petróleo e biocombustível, cuja produção encolheu 3,3%, eliminando o avanço de 3% acumulado em setembro e outubro, segundo o IBGE.

Na outra ponta, o destaque positivo foram os bens de consumo duráveis, com variação de 4% na comparação mensal e de 9% na anual, interrompendo uma série de 32 quedas consecutivas.

A melhora foi puxada pela indústria automobilística. Em novembro, a produção de veículos cresceu 22,4%, segundo a Anfavea, associação que representa as montadoras.

Esse avanço, contudo, está ligado à normalização das atividades nas fábricas da Volkswagen, que haviam sido parcialmente paralisadas em razão de problemas da empresa com fornecedores.

Na avaliação do Bradesco, os resultados indicam que a produção industrial seguirá em níveis baixos no curto prazo. O desempenho ruim deve ser refletido nos resultados do PIB do quarto trimestre, com um recuo de 0,9%, segundo a previsão do banco.

O Itaú Unibanco, que esperava uma variação positiva de 2,6%, classificou o resultado como decepcionante, mas manteve a expectativa de alta da produção industrial para dezembro com base em sinais positivos de indicadores como consumo de energia.

A previsão mais recente da pesquisa Focus, do Banco Central, é de uma retração de 3,49% no PIB de 2016.

CONFIANÇA

O desempenho ruim já havia sido sinalizado pela queda nos níveis de confiança, afirma Aloisio Campelo, responsável pela sondagem do comércio, indústria e consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.

Para o economista, o otimismo gerado na indústria com o incremento das exportações no primeiro semestre de 2016 arrefeceu com a estabilização do dólar em R$ 3,30 e a demora na reação da demanda doméstica.

Para ele, os números divulgados pelo IBGE indicam uma tendência de recuperação lenta da indústria, cuja produção deve se consolidar em terreno positivo apenas no segundo semestre de 2017.

“A única boa notícia é que a inflação está tendo uma evolução favorável, o que permite ao Banco Central baixar os juros e isso tem o poder de melhorar a situação das famílias e das empresas, que podem renegociar suas dívidas”, afirma Campelo.

Entre as categorias pesquisadas, segundo o IBGE, a que apresentou queda em novembro foi a de bens de consumo semiduráveis e não duráveis, de 0,5% sobre o mês anterior, chegando ao quinto mês seguido de perdas.

Para Thais, essa foi a surpresa negativa no mês, após aumento das vendas de papel e papelão.

A categoria bens de capital, medida de investimento, apresentou alta de 2,5% em novembro em relação ao mês anterior, depois de mostrar contração por quatro meses seguidos e longe de reverter as perdas. A produção de bens de consumo duráveis avançou 4% na mesma base de comparação, ainda segundo o IBGE.

Dos 24 ramos pesquisados, 13 apresentaram alta na comparação mensal, com destaque para o aumento de 6,1% na produção de veículos automotores, reboques e carrocerias. Na outra ponta, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis registrou recuo de 3,3% na mesma comparação.

O setor industrial enfrentou no ano passado a fraqueza da demanda interna diante do cenário de recessão e baixa confiança no Brasil.

O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) mostrou que a atividade industrial do Brasil atingiu em dezembro o patamar mais fraco em seis meses, com a situação econômica afetando com força a entrada de novos negócios e a produção.

Na pesquisa Focus do Banco Central, os economistas projetam retração de 6,58% da produção industrial em 2016, contribuindo para a queda de 3,49% do PIB. Para este ano, a expectativa é de que a indústria apresente crescimento de apenas 0,88%, com a economia expandindo 0,50%.

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