Daqui a pouco será muito tarde

Publicado em 20 de junho de 2017

Enio Verri

A um governo ilegítimo, politicamente morto e comprovadamente envolvido em corrupção, obstrução à justiça e formação de quadrilha, todo ato para se manter no poder é compreensível. Com 19 pedidos de impeachment contra si e uma iminente acusação da Procuradoria Geral da República, Temer passará a semana no exterior, como se o País estivesse em pleno funcionamento. Sobrevida de cinco dias.

Já estamos por demais atrasados na reação aos ataques a direitos fundamentais e a pequenos avanços civilizatórios experimentados nos 13 anos dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT). As instituições representativas da classe trabalhadora, sejam elas sindicais ou movimentos sociais urbanos e rurais, estão com sérias dificuldades para mobilizar permanente ação contra os vários golpes dentro do golpe de 2016.

A luta por eleições gerais diretas, com uma constituinte cidadã e soberana, deve ser mais contundente entre os movimentos sociais, pois falta a coragem dos parlamentares de abrirem mão de seus mandatos. Marchar sobre a surda Brasília, quando parlamentares estão muito bem seguros nos corredores do Congresso, não adianta muito. A pressão deve ser nas bases, onde estão, geralmente, de quinta-feira à segunda-feira. O parlamentar tem medo de rua onde possa ser acessado pela população.

Entre 2015 e 2016, principalmente, houve um sem número de manifestações cujo brado era: “não vai ter golpe”. O golpe foi instalado e, desde então, uma série de outros golpes se sucederam, como o congelamento do Orçamento da União, a retirada da Petrobras como operadora exclusiva do pré-sal, o aumento dos juros dos bancos públicos, a terceirização, o negociado sobre o legislado, entre outras medidas não menos nefastas.

Desde maio do ano passado, o novo brado dos que lutam pelo restabelecimento da democracia tem sido o: “fora Temer”. Estamos próximos do sétimo mês de 2017 e a camarilha que tomou o poder de assalto continua no mesmo lugar. E não há a quem reclamar, porque o Poder Judiciário é um dos sócios do golpe. Uma população despolitizada e desorganizada está sozinha, tendo apenas as ruas como campo de luta, pois as instituições públicas estão comprometidas.

É mais que urgente e necessário descriminalizar a política e despolitizar o Judiciário. Uma das mais nobres atividades humanas, a política, foi enxovalhada por um modus operandi secular no qual o público e o privado se confundiram, a bem dos interesses privados. Por outro lado, uma elite jurídica e messiânica imbuiu-se da missão de livrar a nação da corrupção, como se ela não grassasse no Judiciário.

Nesse sentido, movimentos de todos os segmentos sociais são figuras de proa para ação permanente e periódica nas cidades onde moram e por onde andam os deputados e senadores que decidem os destinos previdenciários e trabalhistas do País. Atuar localizadamente, ficar cara a cara com parlamentares, pode ser uma ação mais profícua que juntar mais de 100 mil pessoas, em Brasília, ou na Avenida Paulista.

É importante reconhecer o esforço hercúleo que as frentes Brasil Popular e Brasil Povo Sem Medo têm envidado para barrar o golpe e restabelecer a democracia. Talvez seja a hora de experimentar a descentralização das manifestações, com ênfase nos locais onde estão os parlamentares. Além de alcançar os representantes políticos abre-se para a politização de uma população com afinidade entre si.

A iminência de um desastroso resultado, em 2018, torna menos provável um amplo e determinado apoio da base aliada ao suicídio político que Temer e sua turma de não candidatos convidam os parlamentares a cometerem. As grandes manifestações são importantes, mas os movimentos populares têm capilaridade para efetuar uma pressão local e dela tirar resultados positivos. Às ruas de todo o País, até a vitória. Caso contrário, daqui a pouco será muito tarde.

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