Publicado em 8 de agosto de 2017
Enio Verri
A declaração do governador do Paraná, sobre os servidores públicos, transita entre a desfaçatez e o ódio da elite que ele representa. De qualquer forma, não chega a ser uma surpresa. Eleito e reeleito, Richa manteve o serviço público e os seus quase 300 mil servidores como inimigos a combater e exterminar.
Em 2011, quando o terceiro governo do Partido dos Trabalhadores (PT) projetava aumentar em 10% os investimentos em educação, Richa restabeleceu um falido modelo de metas, com vistas a reduzir o que ele chamou de “gastos” na Educação. Durante a Semana Pedagógica, de 2012, foi lançado o cínico programa Pais Presentes na Escola, por meio do qual, os já espoliados contribuintes realizariam obras de manutenção da escola de seus filhos e dariam aulas de reforço.
Richa é um típico tucano neoliberal. Prega a redução do Estado, valoriza a iniciativa privada, mas age de forma para que o primeiro sustente a segunda. Em 2013, os contribuintes do Paraná pagaram R$ 14 milhões por aluguel de salas comerciais de um doador da campanha de Richa, para o uso da Sanepar. Não satisfeito em sangrar a empresa em favor da imobiliária de um amigo, Richa devolveu o controle da empresa aos acionistas minoritários e reajustou suas remunerações, de 25% para 50%.
Entre 2013 e 2014, foi a vez da Secretaria de Segurança Pública ser exposta ao vexame da administração Richa. Com um rombo nas contas públicas, que batia a casa dos R$ 4 bilhões, o pagamento dos telefones e o abastecimento das viaturas foram suspensos e, pior, a alimentação dos servidores, animais e humanos, foi cortada. Essa é a consideração de Richa pelo serviço público do Paraná.
Seu mais profundo desprezo vai para a educação. Em 2014, determinou o fechamento de salas de aula do Ensino Médio. O prejuízo foi pago por toda a sociedade, tanto por professores demitidos por falta de turmas, quanto pelos estudantes espremidos em salas de aulas superlotadas, passando pelos contribuintes e o próprio estado do Paraná, que viu deteriorar seu desenvolvimento educacional.
O dia 29 de abril de 2015 é marca indelével na memória do panteão da vergonha do estado. Para se apropriar de R$ 8,5 bilhões da Paraná Previdência, o governador determinou ao então secretário de Segurança e atual deputado, Fernando Francischini, que despejasse sobre servidores públicos desarmados, um arsenal de bombas, balas de borracha, cassetetes, cachorros, que resultou no ferimento de 214 pessoas.
No mesmo ano, os paranaenses descobriram, por meio da operação Quadro Negro, que pagaram mais de R$ 50 milhões por escolas não construídas e não reformadas. Segundo o Ministério Público, o chefe da Casa Civil e deputado licenciado do PSDB, Valdir Rossoni, é o principal operador da fraude. Assim Beto Richa e os tucanos do Paraná tratam os interesses públicos. Com que autoridade o governador detrata os servidores públicos, quando ele é quem os vilipendia?
O mais recente alvo de Richa são as universidades estaduais. A Meta4 é um atestado da incapacidade de Richa de tratar do desenvolvimento do Paraná. Ela, ao mesmo tempo, retira a imprescindível autonomia das instituições e interrompe qualquer possibilidade de desenvolvimento acadêmico, científico e tecnológico do estado do Paraná. A quem interessa empresas sucateadas e impossibilitadas de prestarem serviço? À maior parte da sociedade, não. Mas, ao capital privado, produtivo ou financeiro, sim.
Beto Richa foi sincero com o público e seus atos não o deixam negar. O sucateamento das empresas públicas vem junto com uma reforma trabalhista que desfigura mais de 100 artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Em breve, a sanha privatista se desfará de empresas públicas e privatizará o serviço. De que lado Richa está?