O projeto é destruir

Publicado em 24 de novembro de 2020

O Paraná tem um governador e um secretário da Educação que desprezam a pasta, os profissionais da área e os paranaenses de um modo geral. Essa ideologia tem o propósito de manter a classe trabalhadora sem acesso à educação pública e de qualidade. Trabalhadores menos informados não questionam e não criticam. É disso que se trata o projeto de Ratinho Júnior e de Renato Feder. Fornecer ao mercado de trabalho mão de obra comportada e obediente. Essa proposta revela a abjeção que os dois têm pela população e a crueldade com que agem com os pobres. Fica bem clara a cegueira política dos ultraliberais. Ao desmantelar e desinvestir na educação pública, Ratinho e Feder rebaixam a qualificação intelectual, técnica, profissional, acadêmica e tecnológica do Paraná, que se verá obrigado a importar mão de obra qualificada porque um governo ultraliberal optou pelo desmantelamento do sistema de educação.

A destruição do sistema educacional e do serviço público em geral, para restringir acesso dos pobres, tem metodologia e é feita em várias frentes. Nega-se aos profissionais condições materiais de trabalho, ao mesmo tempo em que aviltam-lhes a remuneração e a valorização da carreira. Para ser implantado, o projeto requer autoritarismo, que tem sido a cômoda e sádica posição do governador. Oferece escolas desequipadas, desvalorizadas, cujas estruturas são o grito do Ratinho, na cara da população, dizendo que essa é a política de educação que ele tem para a juventude paranaense e sua família. A mais recente agressão é o concurso para profissionais contratados em regime simplificado e temporário de trabalho, os PSS. Ratinho vai reunir 90 mil candidatos em salas de aulas, quando o Brasil está sendo assolado por uma segunda onda de COVID-19, sendo que a primeira está ainda longe de ser debelada.

A intransigência de Ratinho é típica de soberanos e tem revelações, além do escancarado autoritarismo. Expõe o ódio da classe dominante pela classe trabalhadora, mas o terceiriza para a classe média, que não enxerga que são os profissionais de educação dos seus filhos e as escolas deles e dos filhos dos pobres. Expõe o desprezo que a casa-grande tem pela educação, pelo conhecimento. É o hábito de comprar capital cultural, mesmo não sabendo para que serve, não para difundi-lo, mas como ferramenta de opressão e exibicionismo de erudição. Deixa claro o quão a proposta é excludente. Oferece educação desmantelada para os filhos da classe trabalhadora, porque os ricos matriculam os seus em conglomerados privados de educação, em condições muito mais avançadas que as escolas públicas. Não se pode deixar de observar que a decisão do governador é coerente com o seu campo ideológico e o seu espírito. Alguém com essas condições, jamais promoverá o mínimo acesso dos pobres a bancos escolares dignos. Pelo contrário.

A sua soberba desumanidade o impede de enxergar o ato desesperado de profissionais, diante da iminência de perder o único e parco rendimento, que é risível diante da opulência da mesa de Ratinho. Ele não compreende, ou compreende muito bem, que uma greve de fome é um ato tomado quando a profundidade da indignação se depara com o deserto da impotência de estar submetido a um poder que deveria servir ao público, contudo, serve à classe dominante, apenas. Ratinho revela uma covardia ao quadrado. Além de não reconhecer o gesto e abrir mesa de diálogo, ele permite que essas pessoas se exponham em meio à tsunami de coronavírus que já começa a inundar o Brasil. Infelizmente, os trabalhadores não lutam apenas contra um governo privatista e de políticas recessivas que arrocham o salário e retiram direitos conquistados com muito esforço e luta. A Classe Média, principalmente, tem de parar de achar que é rica. Ela deve saber que está muito mais perto de ser pobre e longe de ser rica. Quando essa parte da população se conscientizar e se juntar aos pobres, a educação do Paraná será modelo internacional a ser seguido.

Enio Verri é economista e professor aposentado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal e líder da bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados.

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